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Aspectos contemporâneos da pedagogia musical, 2013 [condomínio cultural]

 

Aspectos contemporâneos da pedagogia musical, 2013
Instalação sonora interativa em centro cirurgico de hospital desativado com objetos do local e arredores. Arcos de violoncelo violino e baixo com serras. Cordas de piano e violão. Captadores eletro magnéticos e piezzo elétricos. Motores com reguladores de velocidade.

Certas iniciatvas nascem de peculiares polifonias. Os traços das lembraças deixados pelos distintos usos atribuídos a um mesmo edifício podem se sobrepor e continuar condicionando as experiências que ali se dão, por mais que passem os anos e sejam feitas adaptações para novos usos.
O Condomínio Cultural, que hoje, metafóricamente e programaticamente, é espaço para diferentes vozes, produções e debates, convive cotidianamente com os rastros do outrora chamado Hospital São Marcos e seu silêncio premente. A presença dos típicos azuleojos esverdeados, corredores pouco iluminados e a organização dos espaços internos contrapões, por sinestesia, o silêncio hospitalar às vozes contemporâneas que começam a resoar pelas salas tornadas ateliês, espaços de convivência e exposição.
A performance e instalação sonora de Cadós Sancheze Thiago Salas ressalta como esse silêncio que ecoa do passado pode tornar-se, hoje, ruidoso. Ocupando a antiga sala de cirurgias do hospital, a instalação incorpora objetos específicos ao uso hospitalar na configuração de um grande instrumento híbrido. O atrito entre macas, molas, serras e motores elétricos, ora manipulados por controles manuais, ora acionados eletronicamente, assumem múltiplas possibilidades nas quais o fenômeno sonoro (altura, intensidade e timbre) ganha dimensão experimental. Em instâncias distintas, primeiro em uma performance com a participação dos artistas e depois em uma composição permanente com possibilidade de intervenção do público, a obra segue ininterrupta no espaço do Condomínio.
O som constante produzido, ruidoso e repetitivo, tensiona e questiona a polifonia peculiar entre as vozes do presente e o silêncio passado que marca o edifício. Vale então lembrar John Cage, precursor inescapável das experiências sonoras que se fundam na exploração do ruído como tessitura da música. Cage afirmava não haver silêncio que não estivesse prenhe de sons. Dirigindo nossa atenção a pequenos sons ordinários, de ordem do imperceptivel, prosaicos, não musicais, novos sentidos lhes eram atribuídos, novas espacializações conferidas. Nesta chave operam Sanchez e Salas, quase que a negar, num gesto porfioso e mecânico, a falseada mudez do lugar.  
Alcançam, assim, uma atmosfera que remete às paisagens sonoras exploradas pelos filmes de suspense que flertam com o terror: aquela combinação inquietante de um espaço que prezume o vazio e o volume crescente de rangidos, passos e, pela mágica do cinema, sons distendidos de cordas de violinos e batidas imprevistas de cíbalos. Visualmente, a lâmpada hiperdimensionada da sala de cirurgia reforça o tom sinistro dessa combinação. As possibilidades rítmicas, entretanto, às vezes impregnam a composição do sentido contrário. Quando a soma de sons acaba soando como melodia podemos encontrar alguma fantasia no esquema preparado pelas artistas, certa graça em perceber harmonia em meio a tantos indícios conflituosos e aparentemente ameaçadores.

                                                                     Paulo Miyada, 2013


 

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